domingo, 21 de novembro de 2010

COLUNA "A VIDA É UM PASSE" de Vítu Garcia


A vida é um passe em:
Entregar ou não: esta é a questão?


Neste domingo, pela série A do Brasileirão, nós tivemos vitórias de Fluminense e Cruzeiro e empate do Corinthians na busca pelo título de 2010. Muito foi dito sobre as partidas destas equipes durante a semana, com um tema em evidência: haveria “entregada” do São Paulo ao Flu, para prejudicar o Corinthians? Vou polemizar neste espaço, dizendo que houve sim uma espécie de “entregada”! Ao mesmo tempo, garanto a vocês que ela não foi premeditada ou de caráter anti-desportivo.     

Entendam o seguinte: uma partida de futebol é um ritual que possui “pé de igualdade” apenas em seu início. Sempre entram em campo duas equipes com onze jogadores de cada lado (cada uma com um goleiro) e constando um resultado inicial de zero a zero. Portanto, há uma equivalência de peças entre as duas equipes que disputam um jogo. A igualdade de condições para a disputa é um dos princípios do futebol, mas este equilíbrio se desfaz ao longo da partida, quando tudo pode acontecer.

Com o decorrer de um jogo, as equipes podem desequilibrar a disputa por meio de objetivos máximos: os gols. Assim, com os gols feitos ao longo de uma partida, que começa em 0 a 0, pode terminar em 8 a 0 (como foi neste final de semana entre Barcelona e Almeria, com oito gols para os catalães)! Uma partida que começa igualada pode terminar (ou não!) desigual em gols, com a vitória de uma das duas equipes. Objetivamente, tem um time que ganha e outro que perde, ou empate entre ambos.

Por o futebol ser tão aberto ao inesperado, pois é de sua natureza competitiva, é quase impossível controlar o seu resultado. É praticamente impossível controlar vinte e dois homens em campo, disputando a bola para driblar, chutar ao gol, passar ao companheiro, isolar para frente... A quantidade de acontecimentos possíveis, na disputa, é quase infinita!

Digo quase por que é inegável, também, que existem alguns limites. Por exemplo: uma equipe que possui melhor preparo físico pode sobressair-se; um jogador que tem mais habilidade ou mais recursos técnicos pode desequilibrar mais facilmente um jogo.

Da mesma maneira, as pressões de torcidas, de dirigentes e de salários não pagos (por exemplo) podem desequilibrar um jogo. Tais condições podem servir positiva ou negativamente para que um grupo de jogadores desempenhe as suas capacidades.

É com base nisto que afirmo ter havido uma espécie de “entregada” por parte dos jogadores de São Paulo. Esta não teve caráter corrupto ou anti-desportivo, mas sim inconsciente, ligada à pressão das tradições da rivalidade com o Corinthians e pelo ostensivo clamor (agressivo) da torcida são-paulina. Ou vocês acham que os jogadores do São Paulo, que não tem pretensões no restante do torneio, disputariam energicamente a vitória ao verem as faixas ameaçadoras (que estava na arquibancada) "Quem será o próximo Grafite?" e "Entrega!"?

Assim aconteceu no ano passado, em que o Corinthians perdeu para o Flamengo por 2 a 0 em 2009 (quando São Paulo e Palmeiras disputavam o título) e na memorável “pressão” gremista que desembocou na derrota para o Fla por 2 a 1, também em 2009, na última rodada (quando o Inter brigava pelo título).

Em verdade, são tantas possibilidades de acontecimentos em campo que não é possível haver controle pleno. Os objetivos dos onze jogadores de uma equipe podem não ser os mesmos (pode haver algum individualista no meio); os jogadores podem se poupar individual e inconscientemente ou reservarem-se por ordens superiores; de acordo com o momento do jogo, a equipe pode “desacelerar” o jogo ou avançarem com maior afinco sobre o campo adversário. Dependendo do contexto ou de situações internas, são muitas possibilidades...

Para concluir, defendo aqui a desintegração do conceito “entregar”. Não faz sentido o uso do “entregar”, porque isto passa por uma extensa complexidade de elementos de um jogo. Até para uma equipe que se vende ou entrega um jogo precisa de discrição (para não falar blefe, e bem feito)! O “teatro” deve ser bem feito (um caso muito debatido, do Peru contra a Argentina na Copa de 78, em que acusam – apenas – alguns jogadores peruanos do feito que eliminou o Brasil http://bit.ly/ZjvKp) ou a equipe pode ser banida do futebol (o Chapadinha, do Maranhão, entregou um jogo para o Viana por 11 a 0 e foi banido do futebol: http://bit.ly/vZwpY).